A religião dos demônios

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Gosto muito do livro de Tiago. É uma carta de prática, teologia aplicada, sabe? Não que as teorias sejam descartáveis, mas Tiago vai para a última das 4 etapas de leitura: a retenção. É o “e daí?” do final de um texto; o momento “o que eu vou fazer com tudo isto?”.
Poderíamos conversar horas e horas sobre os versos de Tiago, mas hoje, quero destacar apenas 3 deles. Vamos começar por Tiago 2:17 e 18.

Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta.
Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé.

Antes que alguém pense coisa errada, vamos logo esclarecendo. Tiago não está dizendo que a salvação pode ser comprada através de boas obras ou qualquer outra coisa do gênero. Apenas que afirma que uma fé viva se manifesta em boas obras (Embora o contrário nem sempre seja verdadeiro)
Fechado este parêntese…

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A FÉ SEM OBRAS É MORTA
Os versos 14 ao 26 (13 versos) do capítulo 2 são dedicados a este tema. Algumas versões da Bíblia deram um subtítulo para este trecho: “A fé sem obras é morta”. Esta expressão aparece também nos versos 17 e 26. Nos 13 versos deste trecho, Tiago menciona esta ideia em 2 deles, sendo que a última aparição ocorre no verso 26, que finaliza o trecho e o capítulo. Não há dúvida que esta era a essência da mensagem que ele queria fazê-los aprender.  E agora vem o 3º e último verso que destacaremos nesta Epístola:

Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem. (verso 19)

Forte…!
Você crê que Deus é único? Os demônios também (ver verso)
Você crê que Jesus é Deus? Os demônios também (Mc 3:11-12)
Você crê que o salário do pecado é a morte eterna, o inferno. Os demônios também crêem (Lc 8:31)
Forte…! Assustador…!

FÉ COM RAZÃO
Tiago fala que eles crêem. A fé dos demônios, portanto é racional, como deve ser a nossa.
“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso CULTO RACIONAL.”( Rm 12:1 – A ÊNFASE É NOSSA)

FÉ COM EMOÇÃO
Tiago fala que eles tremem. A fé dos demônios também envolve sentimentos, emociona; como a nossa. !!!!!
Sendo assim, qual é a diferença entre nós e eles? De que vale a nossa fé?
É provável que venham textos como estes à mente:
“Quem crê em Mim”, disse Jesus, “ainda que morra viverá” (Jo 11:25)
“Justificados, pois, pela fé, temos paz com Deus” (Rm 5:1)
“Sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11:6)
Mas os Demônios, como nós (ou, talvez, mais do que nós?) crêem nas verdades da Bíblia. Aliás, acreditam tanto naquilo que Deus diz que foram até o fim na ideia de encontrar um subterfúgio para o castigo destinado a eles pela desordem que causaram no Céu.

Onde está a diferença entre a nossa Religião e a Religião dos Demônios?
Fiz esta pergunta na primeira vez em que me refleti no verso 19;  e, sabe, demorei um pouco pra entender o que Tiago estava querendo dizer com isso. A idéia ficou mais clara depois de uma conversa sobre Hebreus 11, o capítulo da fé.

Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem.
Pois, pela fé, os antigos obtiveram bom testemunho.
Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem. (Hb 11:1-3)

Depois, segue o que costumamos chamar de “A Galeria dos Heróis da Fé”:

Pela fé, Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício do que Caim…
Pela fé, Enoque foi trasladado […] pois, antes da sua trasladação, obteve testemunho de haver agradado a Deus.
Pela fé, Noé […] aparelhou uma arca para a salvação de sua casa; pela qual condenou o mundo e se tornou herdeiro da justiça que vem da fé.
Pela fé, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque…
Pela fé, Moisés, quando já homem feito, recusou ser chamado filho da filha de Faraó,
preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus […] Pela fé, ele abandonou o Egito, não ficando amedrontado com a cólera do rei; antes, permaneceu firme como quem vê aquele que é invisível. […] Pela fé, atravessaram o mar Vermelho como por terra seca; tentando-o os egípcios, foram tragados de todo.
E que mais direi? Certamente, me faltará o tempo necessário para referir o que há a respeito de Gideão, de Baraque, de Sansão, de Jefté, de Davi, de Samuel e dos profetas, os quais, por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a boca de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos de estrangeiros.
Alguns foram torturados, não aceitando seu resgate, para obterem superior ressurreição; outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões.
Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra. (Hb 11:4-38 – A ÊNFASE É NOSSA) 

Não sei se deu pra perceber, mas as palavras sublinhadas indicam ações – feitas ou sofridas – pelos heróis da fé. Lemos as histórias destes homens dos quais o mundo não era digno (v. 38), falamos a respeito da vida deles, usamos seus comportamentos como modelos de cristianismo autêntico não porque a Bíblia diz que eles tinham fé em Deus; não! O que realmente admiramos neles – e queremos imitar – são as atitudes que tiveram, mesmo diante de circunstâncias tão adversas como o sofrimento, por exemplo. Na prática, e seguindo a linha de raciocínio de Tiago, estes homens e mulheres, com as obras, mostraram sua fé (Tg 2:18).
Não são as obras que nos salvam; mas a genuína motivação que temos ao praticá-las – a fé em Cristo. E, quando, pela fé, temos a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem (Hb 11:1), começamos, aqui na Terra, a viver como no Céu; adorando e louvando Àquele que, com Sua justiça, cobriu nossos pecados.

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Onde está, portanto, a diferença entre a nossa religião e a religião dos Demônios?
Nas mãos.
Na prática.
No testemunho.
Uma fé que não leva a esses elementos é morta (Tg 2:17,26). 

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